26 de fev. de 2012

Cálice.


Vinde Vós
Que sois o Santo
E desatai os nós.
Os nós das amarras aos pulsos
Os nós de ideias arcaicas
De peitos e corações avulsos.

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Desatai a dor que me destrata
Que corrói e maltrata.
A dor do silêncio,
Do que foi dito ao pau-de-arara
Do grito emudecido, morto
Onde mesmo se iniciara.

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Da sobrevida de um velho poeta
Que canta atrocidades
Nas entrelinhas de falsos amores
Que dá disfarce aos seus protestos
Que se cala diante dos horrores
Da democracia de um governo desonesto

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Vós, que sois o Pai
Afastai de mim este Cálice.
Afastai de mim este Cale-se.
De vinho tinto, de sangue.

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Escutai, Oh Pai,
Esta última prece desesperada
Retirai o silêncio
Que traspassa minha garganta
Como uma santa desalmada,
Entre punhos e joelhos¹
De onde brota o sangue
Quer borbulha dentro de minh’alma.

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Vinde, Oh Santo
Para que caleis minha voz.
Pois este velho poeta ainda grita
E ainda sangra a verdade recôndita
Das feridas d’uma mão atroz.

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Vós, que sois o Pai
Afastai de mim
Esta vontade desumana de gritar;
De mudar o imutável,
E a verdade absoluta contestar.

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Dai-me força para desistir,
Coragem de não continuar,
De o silêncio engolir,
Sorrir, e continuar a cantar.

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Afastai de mim este Cale-se, Pai,
Que me impede de gritar.
Afastai o silêncio de mim,
Que se põe ao meu ego corroer,
Afastai este Cálice de mim,
Ou me deixai morrer...
Enfim.

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